O retorno ao esporte é o grande desafio após cirurgias de reconstrução do ligamento cruzado anterior (RLCA). Isto ocorre pelo fato de ser um pós-operatório longo, onde muitos fatores podem influenciar.

Tempo este que passa por um período pré-operatório do atleta, o período da sua cirurgia e o tratamento pós-operatório, onde possíveis dores ou complicações – até mesmo fatores psicológicos – podem ser influenciadores para que o individuo volte ao esporte de forma segura e eficaz.

Algum tempo atrás, na primeira década dos anos 2000 era comum ver atletas retornando ao esporte em torno de 6 meses após a RLCA. Porém, percebeu-se que a taxa de relesão (lesão ocorrendo novamente) ou de queda de rendimento era muito alto. Isto fez com que o tempo considerado seguro fosse prolongado entre 9 e 12 meses de tratamento.

Um estudo publicado em 2020, feito com atletas jovens observou que os atletas que realizaram o retorno ao esporte precoce (antes de 9 meses de tratamento) possuem 7 vezes mais chances de ter uma relesão. Porém não só o fator tempo é determinante. Caso fosse, não precisaríamos de tratamento fisioterapêutico pós-operatório.

Além do critério temporal, alguns funcionais precisam estar dentro dos realizados e testados pelo atleta. Infelizmente alguns profissionais não utilizam de tais critérios e ficam na subjetividade. Quanto menor a utilização de critérios objetivos e de critérios estabelecidos, maiores as chances desses atletas retornarem à uma mesa de cirurgia.

Em 2017, eu estava em um Congresso Nacional e Internacional de Fisioterapia Esportiva e ocorreu uma mesa redonda formado por especialistas na época para discutir quais critérios utilizar. Alguns membros da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE) chegaram ao seguinte consenso:

– Simetria de força de quadríceps de 90% ou mais

– Simetria de força de isquiostibiais (posterior de coxa) de 90% ou mais

– Relação agonista/antagonista (entre isquiostibiais e Quadríceps) de 60% ou mais

– Testes de saltos unipodais (Hop Test) com simetria de 90% ou mais

– Teste  de agilidade (figura em T) abaixo de 11s

– KOS-ADLS > 90%

– ACL-RSI > 77%

Estes dois últimos são questionário para avaliar a percepção do atleta sobre seu joelho, incluindo fatores físicos e psicológicos.

O tempo também foi um fator bem discutido, onde chegou-se ao número de 6 a 9 meses. Ao que se pode ver, o retorno costuma ocorrer a partir de 8 meses.

Importante que estes critérios sejam cumpridos para que a taxa de re-lesão seja reduzida e para que o atleta volte ao seu esporte com o melhor rendimento possível para aquela atividade.

REFERÊNCIAS

ARDERN, Clare L. et al. Return to sport following anterior cruciate ligament reconstruction surgery: a systematic review and meta-analysis of the state of play. British journal of sports medicine, v. 45, n. 7, p. 596-606, 2011.

BEISCHER, Susanne et al. Young athletes who return to sport before 9 months after anterior cruciate ligament reconstruction have a rate of new injury 7 times that of those who delay return. Journal of orthopaedic & sports physical therapy, v. 50, n. 2, p. 83-90, 2020.

ELLMAN, Michael B. et al. Return to play following anterior cruciate ligament reconstruction. JAAOS-Journal of the American Academy of Orthopaedic Surgeons, v. 23, n. 5, p. 283-296, 2015.

GRINDEM, Hege et al. Simple decision rules can reduce reinjury risk by 84% after ACL reconstruction: the Delaware-Oslo ACL cohort study. British journal of sports medicine, v. 50, n. 13, p. 804-808, 2016.

HADLEY, Christopher J. et al. Safer return to play after anterior cruciate ligament reconstruction: evaluation of a return-to-play checklist. Orthopaedic journal of sports medicine, v. 10, n. 4, p. 23259671221090412, 2022.

HURLEY, Eoghan T. et al. Return to play after anterior cruciate ligament reconstruction with extra-articular augmentation: A systematic review. Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery, v. 37, n. 1, p. 381-387, 2021.

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