É importante dentro de qualquer tratamento que haja objetivos a serem traçados, tanto pelo profissional quando pelo paciente (ou atleta). Por quê? Primeiramente porque você precisa saber aonde quer chegar; Além disso, o engajamento com tratamento por parte do receptor é maior.

O tratamento após cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior (RLCA) é longo, costuma durar em torno de nove meses. Então imagine só nove meses sem um norte… Isto não pode ocorrer! Nem com o profissional, nem com o atleta.

Por se tratar de uma reabilitação longa, os e objetivos durante o tratamento são subdivididos por fases e cada uma destas fases responsável por demonstrar um marco dentro do tratamento e da evolução perante o mesmo.

Vamos dividir o tratamento em alguns objetivos:

  1. O primeiro objetivo é ativar quadríceps; é impossível uma reabilitação bem sucedida dentro de nove meses se a ativação de quadríceps não ocorrer imediatamente. Existe algo chamado inibição artrogênica, onde o músculo simplesmente “desliga” por conta principalmente do edema. Por isso recursos são importantes para ajudar, como eletroestimulação (é necessária).
  2. O segundo objetivo, que entra no mesmo período do objetivo anterior é ganho de amplitude de movimento (ADM); Ganho especialmente de ADM de extensão para evitar que o joelho fique com padrão flexor. O ganho de ADM de flexão também é importante, porém se não ganhar extensão até 6-8 semanas, complicou! Ambas devem estar simétricas ao lado não operado neste período.
  3. Em paralelo a estes objetivos é obter uma marcha normal, as muletas devem acompanhar o indivíduo até 3 ou 4 semanas, depois é independência. Porém uma marcha “normal” só ocorre com boa ativação de quadríceps e ADM livre.
  4. Depois da marcha, logo vem a corrida; Na verdade o primeiro trote… Os estudos mostram que ocorrem em média com 12 semanas de cirurgia. Para que isto ocorra, o sujeito deve ter ADM livre de dor, ausência de edema e um nível de força pelo menos de 60% comparado ao lado contralateral.
  5. Em 12 semanas, também ocorre a entrada de exercícios de fortalecimento em cadeia cinética aberta (CCA), onde o trabalho de força pode ser mais intensificado. Exercícios como cadeira extensora contribuem para o equilíbrio de força.
  6. Do terceiro ao sexto mês, o foco é equilíbrio de força e aumento no nível de condicionamento (não se engane, este período passa rápido).
  7. Chegou no sexto mês? Como está nível de força? É hora de avaliar… Ideal que esteja com nível de 90% de força comparado ao lado contralateral (tanto da parte anterior quanto posterior de coxa). Porém 80% já é suficiente para dar entrada a atividades de transição.
  8. Passou do sexto mês, agora o bicho pega de verdade… Foco no esporte! Aqui são trabalhadas valências como mudanças de direção e saltos de força mais intensa, e o trabalho de força pode ser substituído pelo trabalho de potência, pliometria e força reativa. A funcionalidade do esporte é realmente vista aqui com maior especificidade.
  9. O objetivo é que ao nono mês o atleta possa estar apto a retornar ao seu esporte.

Estes 9 objetivos dentro dos nove meses de tratamento devem direcionar para o sucesso no retorno ao esporte.

Não se esqueça que o sucesso do retorno ao esporte depende de:

Boa técnica cirúrgica + Tratamento fisioterapêutico efetivo + Participação do paciente

REFERÊNCIAS

HURLEY, Eoghan T. et al. Return to play testing following anterior cruciate reconstruction–A systematic review & meta-analysis. The Knee, v. 34, p. 134-140, 2022.

IRFAN, Ahmer et al. A criterion based rehabilitation protocol for acl repair with internal brace augmentation. International Journal of Sports Physical Therapy, v. 16, n. 3, p. 870, 2021.

NELSON, Christopher et al. Postoperative Rehabilitation of Anterior Cruciate Ligament Reconstruction: A Systematic Review. Sports Medicine and Arthroscopy Review, v. 29, n. 2, p. 63-80, 2021.

PASCHOS, Nikolaos K.; HOWELL, Stephen M. Anterior cruciate ligament reconstruction: principles of treatment. EFORT open reviews, v. 1, n. 11, p. 398-408, 2016.

RAMBAUD, Alexandre JM et al. Criteria for return to running after anterior cruciate ligament reconstruction: a scoping review. British journal of sports medicine, v. 52, n. 22, p. 1437-1444, 2018.

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