Provavelmente o que você irá ler abaixo sobre Ligamento Cruzado Anterior (LCA) irá lhe incomodar e eu serei “massacrado” por uma boa parte de colegas.
A ruptura do LCA é uma das lesões comuns dentro dos esportes com alta demanda física, especialmente os esportes que envolvem mudança de direção e saltos.
Eu costumo falar que dentro das lesões comuns é a lesão mais temida.
E por que é tão temida? Pelo longo período que afasta o atleta da sua atividade e do seu esporte. O tratamento, incluindo cirurgia e reabilitação por meio de fisioterapia envolve em torno de 9 a 12 meses no total. Claro que este número pode variar de acordo com a demanda.
É comum atletas de alto nível voltarem um pouco antes, em torno de 8 meses, enquanto atletas mais recreacionais retornam um pouco depois. Contudo é importante que você saiba que para o sujeito voltar antes de 9 meses, algumas coisas estão envolvidas, como pressão de clube e empresário.
É importante também que você saiba que é comum, principalmente nestes casos, o a presença de dor ou sobrecarga em outras regiões do joelho. Isto ocorreu recentemente com Bruno Henrique, do flamengo. Algum período atras ocorreu também com Paolo Guerrero, quando estava do Internacional, de Porto Alegre-RS, que voltou com 7 meses.
Além das dores, a incerteza do real nível que irá voltar é um fator que contribui para o medo da lesão. 35% dos indivíduos relatam não voltar ao mesmo nível de performance pré-lesão.
Quer outro motivo para ser tão temida? Em torno de ¼ dos atletas que retornam, rompem novamente o LCA, seja o lado já operado ou o lado contrário.
Mas claro que todos estes fatores são influenciados por uma cirurgia bem realizada e um tratamento pós-operatório de alto nível, incluindo engajamento do atleta com o tratamento.
Recentemente temos vistos muitos casos de ruptura do LCA nos esportes de alto nível, talvez isso possa estar associado à alta demanda física que os esportes estão exigindo dos atletas.
Para vocês terem uma ideia em números e dados, entre 2006 e 2012 as demandas em alta intensidade na Premier League aumentaram até 35%. As corridas em alta intensidade e sprints aumentaram em 30% e 35%, respectivamente.
Um jogo mais físico exigem ações de maior intensidade com necessidade muscular e adaptável a estas demandas.
Agora, você já parou para pensar se realmente é necessário fazer cirurgia ao romper o LCA?
O tratamento das lesões de LCA pós-operatório estão cada vez mais estruturados e com maiores critérios. Inclusive, por isso hoje se espera mais para retornar ao esporte comparado com duas décadas atrás.
Porém, talvez estejamos pecando no básico. Será que todos que rompem o LCA precisar passar por todo o processo?
A resposta é nua e crua: Não!
O paciente/atleta precisa ter pelo menos a opção de tentar uma alternativa diferente. E aqui, é importante que fique claro, não estou falando de atletas de esportes de alta demanda física, especialmente de esportes que envolvem mudança de direção e saltos.
Muitos sujeitos rompem o LCA, e logo 2-3 semanas já vão para uma mesa de cirurgia realizar a reconstrução. Será que é o melhor caminho?
Primeiro é preciso saber que um tratamento pré-operatório de fisioterapia vai auxiliar no pós. Paciente vai sofrer menos e algumas fases serão aceleradas. Mas e se esse pré-operatório for tão bom ao passo de virar um tratamento conservador? Pode ocorrer…
Por vezes, o atleta pode querer tentar, aí é onde de fato vem o desafio. Já ocorreu comigo e é importante ser claro com o atleta.
Deixo da forma mais clara possível com as seguintes palavras: Nós podemos tentar, mas é importante saber que dentro do tratamento você vai precisar ser exposto a situações de caos que simulam seu esporte. E se nessas simulações você sentir instabilidade, é momento de ir para a cirurgia.
Quanto tempo isso pode demorar? Não é possível afirmar. Por isso, esportes de alta demanda vão direto. Não há tempo. Além disso, imagine que você é jogador de futebol e trata de forma conservadora. Que clube vai contratar um atleta sem LCA?
Vou dar um exemplo vivo agora a você que está lendo: Se EU tivesse uma ruptura do LCA hoje, não optaria por cirurgia. Falo de ruptura isolada, sem outra lesão associada. Hoje pratico musculação e corrida de forma mais recreacional, sem alta demanda e sem mudança de direção ou salto. Eu pelo menos tentaria.
Ah Thiago, mas você não terá artrose mais cedo? Não, isso é um mito.
É muito contra-senso ler um texto deste né?! Eu sei, também neguei muita coisa a respeito do que estou falando acima, porém eu estudei, fui afundo para chegar a este tipo de raciocínio.
Aqui, abaixo algumas coisas que são importantes para considerar a possibilidade de tratamento conservador:
– Idade
– Estilo de vida
– Tipo de esporte e demanda
– Presença ou não de lesão associada
– Possibilidade de parar para passar por um procedimento cirúrgico
– Objetivos dentro do esporte
Lembre sempre que estou falando de lesões isoladas de LCA e que não cabe a atletas profissionais de futebol, por exemplo, a tentativa do conservador.
Aqui no blog, existem alguns artigos sobre LCA e seu tratamento. Enclusive, já escrevi um sobre o passo a passo da reabilitação. Para acessar, basta clicar aqui.
REFERÊNCIAS
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KASMI, Sofien et al. The effects of eccentric and plyometric training programs and their combination on stability and the functional performance in the post-ACL-surgical rehabilitation period of elite female athletes. Frontiers in Physiology, v. 12, p. 688385, 2021.
ZBROJKIEWICZ, David; VERTULLO, Christopher; GRAYSON, Jane E. Increasing rates of anterior cruciate ligament reconstruction in young Australians, 2000–2015. Medical Journal of Australia, v. 208, n. 8, p. 354-358, 2018.