Entorse de tornozelo é uma lesão comum em muitos esportes, especialmente em esportes que envolvem mudanças de direção, saltos ou contato físico. As entorses de tornozelo são um verdadeiro problema dentro destes esportes e em vários locais do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 28000 lesões de tornozelo ocorram por dia.

Porém o problema vai além da entorse de tornozelo. Em torno de 40% destas lesões evoluem para instabilidade crônica de tornozelo em até um ano, onde o indivíduo possui constantes entorses, presença de edema, dor e restrição de amplitude de movimento (ADM) de tornozelo.

Este último é um sintoma comum dentro das instabilidades, fazendo com que muitos atletas venham a desenvolver outras dores ou lesões por mecanismos compensatórios.

Mas… Como a restrição de ADM afeta tanto? Vem comigo:

Imagina que para correr você precise fazer um movimento de dorsiflexão (puxar pé para “cima”) para gerar maior alavanca de movimento. Agora imagine que você não possui este movimento completo e mesmo assim precise fazer a mesma ação: correr.

Pior ainda, correr em alta velocidade, realizando um sprint. A força que você terá de realizar será muito maior. Porém não necessariamente seu corpo está adaptado para tal, exigindo uma força de tríceps sural (panturrilha) que você não possui. Com o tempo esta falta de força começa a gerar exageradas cargas no tendão calcâneo (de Aquiles) e este tendão passa da sofrer alterações, ocasionando uma tendinopatia.

Agora imagine você saltando ou mesmo correndo, onde precisa aterrissar para diminuir impacto durante o movimento. Seu tornozelo não possui ADM suficiente para absorver impacto, fazendo com que este papel fique com outras articulações, como o joelho.

O excesso de carga no joelho provavelmente irá lhe trazer um outro processo de sobrecarga, podendo gerar também alterações no tendão patelar, inflamações em regiões peripatelares (próximo à patela) ou em outros casos, aumentar valgismo dinâmico e favorecer uma lesão ligamentar ou meniscal.

Sim, redução de ADM de tornozelo contribui para o aumento do valgo dinâmico, que nada mais é que o joelho entrando para o meio durante algum movimento. E não esqueça que este é o movimento mais temido para os membros inferiores, pois é responsável por contribuir para boa parte das lesões de joelho.

Outra articulação que também é afetada pelo valgo dinâmico é o quadril, onde nesta posição temos pouca ativação do complexo posterolateral (CPL) do quadril e uma maior sobrecarga nesta articulação. Ou seja, o valgo dinâmico que é potencializado pela restrição de ADM de tornozelo é capaz de gerar alterações nas articulações do joelho e/ou quadril. Este mecanismo de lesão é chamado de mecanismo ascendente, quando um causador vem de baixo para cima.

Não avaliar ADM de tornozelo em lesões de membros inferiores ou não realizar exercícios focados nesta variável em programas preventivos é negligenciar a ciência. A base do nosso corpo está em nosso pé e tornozelo, se este não estiver bem estruturado as chances de as paredes caírem são enormes.

REFERÊNCIAS

DOHERTY, Cailbhe et al. Recovery from a first-time lateral ankle sprain and the predictors of chronic ankle instability: a prospective cohort analysis. The American journal of sports medicine, v. 44, n. 4, p. 995-1003, 2016.

KAMINSKI, Thomas W. et al. National Athletic Trainers’ Association position statement: conservative management and prevention of ankle sprains in athletes. Journal of athletic training, v. 48, n. 4, p. 528-545, 2013.

KAWAGUCHI, Kohei et al. Dynamic Postural Stability Is Decreased During the Single-Leg Drop Landing Task in Male Collegiate Soccer Players With Chronic Ankle Instability. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, v. 10, n. 7, p. 23259671221107343, 2022.

VUURBERG, Gwendolyn et al. Diagnosis, treatment and prevention of ankle sprains: update of an evidence-based clinical guideline. British journal of sports medicine, v. 52, n. 15, p. 956-956, 2018.

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