Eu lembro quando vi primeiras imagens do CrossFit, em meados de 2013 e 2014. Não era algo tão difundido aqui no Brasil e pouco praticado mesmo nas capitais. Alguns anos depois, entre 2016 e 2017 a academia no qual eu treinava musculação começou a fazer algumas aulas com o método utilizado pela CrossFit.
Foi neste período que comecei a conhecer mais a modalidade de treinamento, porém com um certo preconceito eu a via. Este é provavelmente o preconceito que maior parte das pessoas têm sobre a modalidade.
Porém como eu estava um pouco cansado e me sabotando bastante nos treinos de musculação resolvi fazer algumas aulas e gostei. Gostei que naquele período conciliava 2 a 3 treinos de cada modalidade na semana.
Como o CrossFit era uma modalidade nova, poucos estudos ainda havia naquela época sobre lesões e números mais estabelecidos. Foi aí que eu e um colega (Fábio Dominski) de laboratório de pesquisa da universidade resolvemos estudar mais afundo a modalidade.
Afinal de contas de há poucos estudos, vamos ler todos estes artigos publicados (rsrs).
Publicamos uma revisão sobre o tema, outros artigos sobre aspectos psicológicos e adentrei no mestrado com o intuito de elaborar uma pesquisa maior. Ao final do mestrado, foram dois trabalhos em minha dissertação publicados e o segundo foi justamente uma revisão sistemática comparando as taxas de lesões das modalidades de Treinamento Resistido (TR).
O nome deste ultimo estudo é Which resistance training is safest to practice? A systematic review, publicado recentemente no Journal of Orthopaedic Surgery and Research (JOSR).
O TR, segundo o American College of Sports Medicine (ACSM), é definido como uma forma de atividade física que é projetada para melhorar a força muscular por exercitando um músculo ou grupo muscular contra uma resistência feita por máquinas ou pesos livres.
Neste nosso estudo incluímos modalidades de treinamento que cumpriam tais características. Ao todo foram 27 estudos analisados, incluindo 13.127 praticantes ou atletas de modalidades que utilizam o TR. As modalidades incluídas foram:
– CrossFit (17 estudos);
– Levantamento de peso olímpico – LPO (4 estudos);
– Powerlifting (3 estudos);
– Treino de força tradicional – Musculação (3 estudos); e
– Strongman (1 estudo).
Mas e aí, qual destes métodos acima lesiona mais? E qual lesiona menos?
Bem, o CrossFit, o LPO e o Powerlifting possuem movimentos que se associam e suas taxas de lesões mostram resultados semelhantes. Inclusivo os locais onde as lesões mais ocorrem também são parecidos: ombros, lombar e joelhos.
De fato, destes o que mais lesiona é o Strongman. E quem já viu alguma competição deve imaginar o porquê. São altas cargas em movimentos muito variados, com pesos de diferentes formatos.

Mas e quanto ao mais seguro? A musculação lesiona menos que o CrossFit?
Você provavelmente começou a ler este artigo para saber esta resposta. Saiba que, em média, os estudos relacionados à musculação mostraram menor prevalência de lesões. E isso pode fazer sentido se olharmos para a seguinte perspectiva:
Dentro de uma sala de musculação vemos geralmente movimentos analíticos, com pouco complexidade de tarefa. Diferente do que vemos nas demais modalidades, onde os gestuais técnicos e a complexidade do movimento são muito mais aguçados.
Antes de tomarmos qualquer leitura deste artigo como uma “lei” e sairmos afirmando que algo lesiona mais que outro, precisamos olhar alguns dados de forma mais atenta.
Primeiro, foram muito mais estudos inclusos de CrossFit que musculação. Será que se tivéssemos mais estudos, o resultado seria semelhante?
Segundo o perfil dos praticantes. Quantos indivíduos que praticam apenas a musculação são competidores do seu esporte? Musculação não é um esporte, mas o fisiculturismo sim. Quantos praticantes de musculação competem em fisiculturismo?
Agora, compare com o CrossFit… quantos praticantes de CrossFit participam de competições da modalidade? Não há dados estabelecidos, porém creio que este número seja maior. Será que o perfil de competição pode ser o culpado?
E terceiro, considere a frequência. Os estudos de musculação tiveram em média nos seus praticantes 2 treinos por semana; no CrossFit, a média sobre para 4. Será que isso possui também influencia?
Antes de criarmos polemica ou sairmos falando que algo é altamente lesivo, é importante observar de forma mais aprofundada para obtermos melhores intepretações.
O que eu penso? Que independente do seu método de treinamento, cuide-se. As lesões fazem parte das modalidades e cabe a nós evitarmos ao máximo. Eu sou muito favorável a misturar métodos para variar em treinamento, pois cada uma possui seus benefícios.
Minha opinião é que CrossFit e Musculação são complementares e não rivais. Use-as a seu favor.
REFERÊNCIAS
DOMINSKI, Fábio Hech et al. Perfil de lesões em praticantes de CrossFit: revisão sistemática. Fisioterapia e Pesquisa, v. 25, p. 229-239, 2018.
SERAFIM, Thiago Teixeira et al. Which resistance training is safest to practice? A systematic review. Journal of Orthopaedic Surgery and Research, v. 18, n. 1, p. 1-12, 2023.
SERAFIM, Thiago T. et al. Epidemiology of high intensity functional training (HIFT) injuries in Brazil. Journal of orthopaedic surgery and research, v. 17, n. 1, p. 522, 2022.