Você já leu o termo “Groin pain”? Não conhece? Bem, este é um termo inglês utilizado para se referir à Pubalgia, às dores na região da virilha. Muitos estudos utilizam deste termo em suas publicações.
Por que estou falando disto? Bom, para contextualizar, pois dor na virilha é algo comum dentro do esporte e que muitos destes não utilizam o termo “Pubalgia” em seus textos, assim quando você for pesquisar, abra seu leque de termos e vocabulário.
As Pubalgias possuem origem multifatorial, como vocês já puderam ver no artigo Três passos para prevenir a Pubalgia, alguns fatores de risco foram citados. Um destes fatores está ligado à falta de mobilidade de quadril, pois por um mecanismo compensatório seu púbis fica sobrecarregado ao compensar o papel da articulação coxofemoral (articulação do quadril) em seus movimentos.
Existe uma síndrome chama Impacto Femoroacetabular (IFA), que possui como principal característica a restrição de amplitude de movimento (ADM) do quadril. Os principais movimentos afetados são a rotação interna (RI) e flexão (FLEX) de quadril. Esta síndrome ocorre a partir de uma deformidade anatômica, onde há o crescimento anormal da cabeça/colo do fêmur e/ou aumento do acetábulo.

Acontece que um ponto próximo à articulação coxofemoral é o púbis, e possuímos dois ossos do púbis em nossa pelve que são unidos pela sínfese púbica. Esta é uma região que não foi feita para sofrer grandes movimentos.
Porém quando um indivíduo com restrição de ADM de quadril, principalmente um indivíduo com IFA tenta realizar movimentos de maior exigência do quadril, sua compensação passa a ocorrer na região púbica. Pois imagine que você está fazendo uma brincadeira de cabo de guerra com uma dupla. De repente seu parceiro cansa e não consegue mais puxar a corda… O que acontece? Você precisa fazer uma dupla função e/ou dupla força para manter-se ativo. De forma repetida fazendo este duplo papel você vai perder performance e vai ser derrotado. A derrota nada mais é que a lesão.
Um estudo de 2012 publicado por pesquisadores norte-americanos no American Journal of Sports Medicine fez algo inusitado em cadáveres para testar esta hipótese. Eles pegaram 12 quadris de 6 cadáveres que colocara um botão na cabeça/colo do fêmur destes para simular um IFA tipo CAM. Eles verificaram a quantidade de carga sobre a região do púbis antes e após a colocação do botão e perceberam um aumento significativo de carga sobre a sínfese púbica.
Há uma forte evidência mostrando que a restrição de ADM de rotação de quadril menor que 85º de movimento em uma avaliação pré-temporada está relacionada ao aumento de chances de lesão no púbis durante uma temporada esportiva.
Todos estes dados servem para você perceber a importância de avaliar e trabalhar sobre tal variável e assim poder reduzir as chances de lesão no púbis. Avaliar seja em período de pré-temporada ou no decorrer de uma lesão. A origem da lesão é multifatorial, porém alguns fatores podem se sobressair sobre os demais.
REFERÊNCIAS
BIRMINGHAM, Patrick M. et al. The effect of dynamic femoroacetabular impingement on pubic symphysis motion: a cadaveric study. The American journal of sports medicine, v. 40, n. 5, p. 1113-1118, 2012.
ECONOMOPOULOS, Kostas J. et al. Radiographic evidence of femoroacetabular impingement in athletes with athletic pubalgia. Sports Health, v. 6, n. 2, p. 171-177, 2014.
MUNEGATO, Daniele et al. Sports hernia and femoroacetabular impingement in athletes: a systematic review. World Journal of Clinical Cases: WJCC, v. 3, n. 9, p. 823, 2015.
NEUVILLE, Alexander J. et al. Risk Factors for Athletic Pubalgia in Collegiate Football Student-Athletes: A Retrospective Cohort Study. Sports Health, p. 19417381221121127, 2022.
TAK, Igor et al. Is lower hip range of motion a risk factor for groin pain in athletes? A systematic review with clinical applications. British journal of sports medicine, v. 51, n. 22, p. 1611-1621, 2017.