Recentemente, foi publicado no British Journal of Sports Medicine (BJSM) o maior estudo epidemiológico sobre lesões musculares em posteriores de coxa no futebol. Foram analisadas 20 temporadas, iniciadas em 2001/2002 e terminada na temporada de 2021/2022.
O estudo Hamstring injury rates have increased during recent seasons and now constitute 24% of all injuries in men’s professional football: the UEFA Elite Club Injury Study from 2001/02 to 2021/22 foi publicado por pesquisadores da Suécia, Canadá e Londres.
Dentro desse estudo foram incluídos atletas profissionais das principais ligas do mundo, pertencentes à UEFA.
Mas afinal, que resultados ele nos trouxe?
Olhando o resultado bruto, as lesões aumentaram proporcionalmente. Elas passaram de 10% para 24% das lesões totais dentro do futebol. Além disso, o número de lesões estruturais passou a ser maior quando comparado com lesões que não são estruturais (lesões funcionais).
*Podemos dividir as lesões musculares em dois grandes grupos: lesões funcionais, onde não há lesão tecidual propriamente dita, apenas dor; e lesões estruturais, onde ocorre a lesão tecidual.
Analisando todas as 20 temporadas, percebemos que maior parte das lesões também ocorreram por movimento de corrida e sprint, ou seja, correndo em alta velocidade. Por algum tempo falou-se que as lesões vinham majoritariamente de movimentos de desaceleração, pois não é o que este levantamento trouxe.
Também já escrevi algumas semanas atrás sobre a importância de gestos de sprint dentro da prevenção de lesões. Para acessar basta clicar aqui.
Claro que a desaceleração precisa ser controlada também, para que as lesões não ocorram desta forma, porém apenas fortalecer com foco na fase excêntrica (como é o caso do exercício Nórdico) não vai resolver todo seu problema. É o mesmo que buscar o alimento milagroso para emagrecer, não surtirá efeito se o entorno não for controlado.
Dentro das 20 temporadas, 18% das lesões voltaram a acontecer, sendo que 1/3 destas voltaram a ocorrer dentro de até dois meses. Este dado nos mostra a atenção que devemos ter em cumprir todas as etapas do tratamento para que o atleta não volte a frequentar o departamento médico (DM).
Bom, mas o que de fato estes resultados nos dizem?
Primeiro, o futebol está cada vez mais físico. O papel da fisiologia, da preparação física e da recuperação são cada vez mais fundamentais na performance e na prevenção das lesões no esporte. Hoje, o atleta corre mais e possui mais ações em alta intensidade dentro do jogo que comparado com 20 anos atrás.
Porém, mesmo com o avanço da ciência e tecnológia no entorno do esporte, porque as lesões aumentaram proporcionalmente é o grande questionamento.
Você notou a palavra que usei? “Proporcionalmente.” Por que ela é tão importante na interpretação dos resultados, afinal? Porque a proporção das lesões pode ter aumentado com a diminuição dos outros tipos de lesões.
Por exemplo, se você tem 10 lesões musculares e 20 lesões de entorse de tornozelo em uma temporada, você tem uma lesão muscular para cada duas de tornozelo (proporção de 1:2). Agora, se na temporada seguinte você tem 10 lesões de cada, sua proporção aumenta em 1:1. Sua proporção de lesões passa de 33% para 50%, a proporção aumentou mesmo com o número de lesões musculares mantendo-se o mesmo.
Então, a segunda interpretação nos passa que o papel da prevenção tem se tornado sim efetivo, porém principalmente para as demais lesões. E como o jogo se tornou muito mais físico com dificuldade de recuperação entre os jogos, aumentou-se também o desafio em controlar carga destes atletas para prevenir lesões.
Um terceiro ponto, sobre o diagnóstico das lesões estar representado atualmente maior por lesões estruturais cabe muito à tecnologia atual, que nos permite uma maior acurácia nos exames de imagens.
Então, que conclusões podemos tirar a partir dos resultados encontrados no maior estudo epidemiológico de lesões de isquiostibiais do mundo:
- As lesões ocorrem predominantemente em movimentos de Sprint (61%)
- O músculo bíceps femoral (79%) é mais afetado que semitendíneo e semimembranoso
- É preciso tem atenção com controle de carga
- A recuperação muscular deve seguir modelos baseados em evidência
- O treino de força é importante, especialmente na pré-temporada e semanas cheias de treino (semana cheia considere apenas 1 jogo na semana)
- O tratamento deve ser completo para evitar recorrência de lesões
- Atenção com os níveis de fadiga, pois maior parte das lesões ocorrem na parte final dos dois tempos
Os resultados dos estudos epidemiológicos servem para poder direcionar os melhores métodos e, assim, estas lesões possam ser reduzidas. Que os clubes sigam modelos para que estes valores sejam menores nas próximas temporadas.
REFERÊNCIA
EKSTRAND, Jan et al. Hamstring injury rates have increased during recent seasons and now constitute 24% of all injuries in men’s professional football: the UEFA Elite Club Injury Study from 2001/02 to 2021/22. British Journal of Sports Medicine, 2022.